O Brasil, uma potência agrícola em muitos aspectos, destaca-se entre os dez principais produtores globais de cacau, conferindo uma posição de destaque ao país no cenário internacional de exportação dessa valiosa matéria-prima. Este artigo conduzirá você por uma jornada através dos meandros do mercado internacional de cacau, abordando sua logística, perspectivas setoriais e o panorama do consumo tanto em âmbito nacional quanto internacional. Pronto para embarcar nessa viagem?
O cacau, originário do cacaueiro, há muito tempo é um protagonista em diversas narrativas das civilizações antigas, até mesmo recebendo a nobre alcunha de “Fruto dos Deuses” muito antes da transformação em chocolate, quando era utilizado na preparação de bebidas, assemelhando-se ao café, em oferendas aos deuses.
Na paisagem brasileira, o estado da Bahia emerge como um dos principais berços dessa riqueza, com destaque para a cidade de Ilhéus, onde a produção de cacau permeia, até os dias atuais, os alicerces de sua economia.
Essa não é uma coincidência fortuita: o clima favorável aliado à localização estratégica da cidade impulsionam a produção e facilitam a logística de exportação, sobretudo via modal marítimo. Anualmente, os fazendeiros abrem suas porteiras para receber uma gama diversificada de visitantes, desde entusiastas e historiadores até negociadores nacionais e internacionais.
Apesar do potencial notável da Bahia, o Brasil, em décadas passadas, ocupava uma posição de destaque entre os três maiores produtores mundiais de cacau. Entretanto, o advento da doença conhecida como “vassoura de bruxa” nos anos 90 causou danos consideráveis à indústria cacaueira, resultando em perdas significativas nas plantações. Apesar da migração substancial da produção para o Pará, região que demonstrou excelente capacidade produtiva e um clima mais propício, o Brasil ainda não conseguiu recuperar sua posição privilegiada no ranking global de produção.
Apesar desses desafios, em 2019, o Brasil foi oficialmente reconhecido pela Organização Internacional do Cacau (ICCO) como um exportador de cacau 100% fino e de aroma, atribuindo-lhe um valor agregado significativo. No entanto, o processo de produção atualmente adotado, focado em exportação a granel, carece de valor agregado, abrangendo etapas desde o plantio até a torragem.
O Brasil, dotado de vasto potencial, abriga aproximadamente 93 mil produtores em todo o país, com cerca de 40 mil deles concentrados na Bahia. Segundo dados do IBGE, em 2021, a produção nacional de cacau superou as 300 mil toneladas, evidenciando o vigor desse setor. A indústria cacaueira, ao movimentar milhões de dólares ao longo de sua cadeia produtiva, desempenha um papel crucial na geração de emprego, renda e no atrativo de investimentos estrangeiros, contribuindo, por conseguinte, para a redução da pobreza nas regiões produtoras.
Prevê-se que até 2024, a produção brasileira seja impulsionada por incentivos governamentais, especialmente nas regiões Norte do país.
No contexto global, a pandemia de COVID-19 teve um impacto considerável no consumo de chocolate em escala mundial. No Brasil, a queda foi perceptível tanto nas importações (com redução de 9,6% no primeiro semestre de 2021) quanto nas exportações (com declínio de 35,3% no mesmo período). Gana, Costa do Marfim e Holanda (Países Baixos) são os principais países exportadores de cacau, cujos grãos são frequentemente adquiridos pelos estados produtores brasileiros para processamento interno.
Recentemente, o mercado testemunhou uma tensão quando cacau importado da África, aparentemente sem fiscalização fitossanitária adequada, chegou a Ilhéus, preocupando os produtores locais com o potencial de contaminação de suas plantações. Essa preocupação foi corroborada pela Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC), enquanto a Associação da Indústria Processadora de Cacau (AIPC) destacou a necessidade de vigilância contra pragas já presentes no país, como a monilíase.
Em termos de exportação, entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, o Brasil exportou um total de US$ 24.161.272 em cacau, com a Bahia liderando o ranking dos estados exportadores. A Argentina desponta como o principal comprador do cacau brasileiro, seguida pelo Chile, Estados Unidos e Países Baixos. As principais unidades de desembaraço para exportação incluem Uruguaiana, Salvador e São Borja, evidenciando a complexa rede logística envolvida nesse comércio.
Em suma, o universo do cacau brasileiro é multifacetado e dinâmico, apresentando desafios e oportunidades que influenciam não apenas a economia nacional, mas também o cenário global do comércio de chocolate. É essencial que os diversos stakeholders, desde produtores até autoridades governamentais e associações do setor, trabalhem em conjunto para promover uma indústria cacaueira sustentável e próspera, capaz de enfrentar os desafios do presente e do futuro.